O presente volume aborda questões de muito interesse sobre aspectos de continuidade e inovação na produção poética tardo-antiga. Resultado de um ciclo internacional de conferências organizado pela Universidade Pablo de Olavide e a Universidade de Sevilha em Outubro de 2015, reúne oito textos num arco cronológico que vai de Nemesiano a Maximiano.

O primeiro capítulo, de Rosario Moreno Soldevilla, especialista em poesia latina do Império (recorde-se o seu comentário ao Livro IV de Marcial, publicado na Brill em 2006), tem como tema amor e idade nas éclogas de Nemesiano. A autora demonstra o grande domínio que o poeta tinha dos motivos da tradição literária e a originalidade com que os recria. Silvia Mattiaci incide a sua análise nos poemas prefaciais da Bissula de Ausónio. É um estudo muito interessante e bem fundamentado, dilucidando os elementos constitutivos do discurso programático de Ausónio, baseado na oposição entre o género pequeno / humilde / frívolo que o poeta escolhe e o género grandioso e num tom irónico com que se dirige ao dedicatário da colecção de epigramas. Gabriel Laguna Mariscal trata a temática amorosa no epitalâmio que Claudiano dedicou a Honório e Maria e nos poemas fesceninos compostos por ocasião do matrimónio do imperador com a filha de Estilicão em 398. Após uma síntese sobre o contexto histórico e a figura de Claudiano, estabelece as fontes subjacentes, em particular Catulo e Estácio. O quarto capítulo, da autoria de Francisco Socas, recai sobre a rosa em poemas da Antologia Latina, examinando os sentidos em que é utilizada a flor e simbologia que lhe está inerente.

Helen Kauffman, uma reputada especialista em Dracôncio (recorde-se a sua edição e comentário de Romul. 10 de 2006), analisa os diferentes tipos de amor que são tratados na poesia deste poeta africano: entre pais e filhos, entre amigos, entre o homem e Deus, entre apaixonados, para só citar algumas das categorias que propõe. No sexto capítulo, Miryam Librán Moreno investiga as possíveis fontes gregas que o autor de Aegritudo Perdicae poderá ter tido ao seu dispor. Assinala com muito interesse os elementos característicos do género trágico que se vislumbram neste epílio e salienta a multiplicidade de géneros poéticos nele implícitos. Juan Martos estuda um ciclo de poemas de Enódio de Pavia, cujo tema é uma taça que tem cinzelado o episódio de Pasífae e o touro. Conclui que possivelmente a taça conteria duas cenas, uma de um lado, a outro do outro, o que explicaria alguns elementos presentes nos epigramas. O último trabalho é de Juan Luis Arcaz Pozo. Examina como Maximiano, nas suas elegias, retoma elementos das convenções literárias, herdados de Tibulo, Propércio e Ovídio, os transforma e os adapta no seu discurso poético. Os habituais índices e bibliografia completam o volume.

No seu todo, o volume oferece uma perspectiva global e bem articulada de aspectos relevantes na forma como a produção poética tardo-antiga recuperou elementos da tradição literária e os converteu em novas formas e contextos. A sua leitura abre perspectivas novas no fascinante domínio da poesia da Antiguidade Tardia.

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